Sob Convite começou em Outubro de 2018, na ArtEZ, no segundo ano do mestrado de Theatre Practices (MTP).
Aqui, documento todas as apresentações que fiz durante o mestrado.
Primeira Apresentação, 19 de Outubro de 2018 Teatro 1, ArtEZ, Arnhem
Eu queria ser dirigida pelo público. Queria atribuir ao público o papel de encenador. Eu seria a Actriz e teria um texto decorado. O Público deveria dirigir a actriz e isto seria o nosso espectáculo.
Inicialmente, era esta a minha ideia.
Conforme desenvolvia esta ideia, comecei a questionar a minha disponibilidade para "fazer" tudo o que o público me pedisse. Questionava também se assumiria o espectáculo como meu, caso não concordasse com as opções do público me pedisse.
Ao fazer um convite destes ao público ('dirijam-me'), qual seria a minha legitimidade para dizer "não" ao que este me propusesse? E para quê atribuir o papel de encenador ao público quando já existe um papel - o de Público?
Tendo em conta estas questões, quis que nesta apresentação se clarificassem as regras que tanto a actriz, como o público queriam estabelecer/seguir num espectáculo. Este seria o início para uma apresentação sobre Autonomia. A Actriz faria um contrato com o Público.
A maneira como o contrato é introduzido e abordado define a relação com o público. A escolha do tipo de linguagem, das palavras e do tom com que se representa e redige o contrato foram detalhes a ter em consideração em todas as apresentações.
A maneira como é feito o convite, escolhe (cast) o público (Bogart, 2007).
Acabei por chamar-lhe Acordo e não Contrato. Apesar de legalmente não haver diferenças, achei mais agressivo chamar-lhe contrato e que me iria colocar numa posição mais difícil para começar um diálogo com o público.
Esta primeira apresentação foi feita numa sessão apenas com os meus/minhas colegas do MTP. Estava dividida em três partes:
1- acordo com o público;
2- intervalo/assinar o acordo;
3- espectáculo;
Para fazer o acordo, utilizei um tipo de questionário desenvolvido pela artista Lina Issa (Líbano, 1981) e ao qual assisti num workshop em Zwolle.
Este modelo funciona da seguinte forma: no palco estão colocadas folhas A4 no chão, com as letras A, B, C... . São colocadas algumas questões ao Público (Acordo #1). Cada membro do público responde ao colocar-se junto da folha A4/letra escolhida. O Acordo final é redigido com as respostas mais escolhidas (Acordo #2).
A seguir à votação, fez-se um intervalo.
A intenção inicial era fazer o questionário num dia, e o "espectáculo" no dia seguinte. Porque a apresentação tinha de ser feita apenas num dia, introduzi este intervalo.
Durante o intervalo, imprimi os acordos (Acordo #2). Distribuí-os ao Público, pedi que o assinassem.
Todos assinaram menos um membro do público, Conrad Useldinger. Insisti, mas devido ao tempo limitado de cada apresentação (45 minutos) e porque queria testar também a 3ª parte, acabei por não explorar a argumentação com o Público como parte da apresentação. Também não tive a coragem de não deixá-lo assistir à terceira parte. Acabei, apenas, por dizer-lhe que não podia ser responsável por ele durante o Espectáculo.
Durante o Espectáculo, a terceira parte, decidi explorar dois elementos performativos: o subtexto e exercícios de autonomia.
Na conferência Art of acting and the theatrical: Premisses in understanding the autonomous actor, o professor de Estudos de Teatro da Universidade de Bergen, Knut Ove Arntzen, refere que "do debate sobre o interior e o exterior na arte de representar, aprendemos que o actor também pode ser independente em relação ao texto. Assim, o actor pode ser visto como autónomo ao representar o subtexto. Esta é uma maneira de vê-la/o como autónomo".
Indo ao encontro desta ideia, decidi explorar o subtexto como um exercício de autonomia.(1)
Os outros exercícios de autonomia vieram de entrevistas que tenho vindo a fazer a actores. Nestas entrevistas, peço aos entrevistados que me dêem um exercício de autonomia para praticar. Foi a prática destes exercícios que constituiu a terceira parte da apresentação.
Nesta apresentação, pedi a uma aluna do primeiro ano do MTP, Maria Pisiou, para ajudar-me com a direcção de cena e a operar as luzes. Tendo em conta que esta era uma apresentação sobre autonomia, decidi dar-lhe a liberdade/responsabilidade de decidir o momento do blackout. Para mim, este pormenor, delegar responsabilidade e poder de acção, é fundamental. Do meu ponto de vista, transforma um processo de criação num processo de colaboração, onde cada elemento é autónomo e responsável pelas suas acções/decisões.
Este processo foi o que pretendi criar nesta apresentação, na minha relação com o público. A possibilidade de escolha, acredito, torna-o responsável pelas suas escolhas e, consequentemente, pela apresentação em si.
A apresentação foi considerada confusa, as regras não foram suficientemente claras. Mas houve uma resposta bastante positiva da parte dos professores para continuar a explorar a ideia de contrato como elemento performativo.
A argumentação com o público sobre o Acordo não foi explorada nesta apresentação. O desenvolvimento deste elemento, a negociação, levantou uma questão que me ocupou durante todas as outras apresentações: como é que, como actriz, me preparo para esta apresentação. Como é que se treina quando se está tão dependente da resposta do público.
(1) Ao desenvover esta pesquisa decidi não apresentar nenhum "espectáculo" no final, mas sim fazer com que a escrita do contrato fosse o espectáculo em si. Assim, a ideia de subtexto como princípio de autonomia do actor será desenvolvida noutro projecto.
Acordos
O Acordo #1 é o Acordo proposto ao Público.
O Acordo #2 é o Acordo com as escolhas do Público, no final da apresentação.
#1
Acordo entre Performer e Público
O presente ACORDO é constituído ao dia 19 do mês de Outubro do ano 2018, entre as 11:25 e as 12:15, no Teatro 1, na ArtEZ, localizada em Onderlangs, 9, Arnhem.
Maria Joao Falcao (adiante denominada “PERFORMER”) e __________ (adiante denominada/o “PÚBLICO”) acordam o seguinte:
1- Como PERFORMER gostaria de convidar o PÚBLICO para uma apresentação de um work in progress, de uma experimentação da minha pesquisa, que acredito ser relevante. Gostaria de partilhar com o PÚBLICO o trabalho que tenho vindo a pensar e a desenvolver até ao presente dia.
2- Como PÚBLICO, ofereço à PERFORMER:
A- o meu tempo;
B- a minha atenção;
C- o meu interesse;
D- o meu silêncio;
3- A PERFORMER dará ao PÚBLICO este ACORDO, que será utilizado como bilhete para aceder à apresentação.
4- Para o PÚBLICO este bilhete deverá ser:
A- um convite;
B- gratuito, estamos num contexto académico e institutional;
C- gratuito, este é um trabalho inacabado, um work in progress;
D- 2,5 €, preço simbólico, comprar um bilhete é parte da minha experiência como PÚBLICO;
E- ter o valor que o PÚBLICO lhe atribuir, de acordo com a sua experiência;
5- A PERFORMER e o PÚBLICO desejam que a apresentação não seja perturbada por telemóveis.
A- Sim;
B- Não;
6- Como PÚBLICO, gostaria, durante a terceira parte desta apresentação:
A- estar sentado/a às escuras;
B- estar visível;
7- Como PERFORMER responsabilizo-me e respeito o PÚBLICO. Respeito o tempo deles, como espero que o PÚBLICO respeite o meu.
8- Como PERFORMER respeito o direito de o PÚBLICO não querer participar.
9- Como PÚBLICO devo:
A- respeitar as escolhas da PERFORMER;
B- permitir que a apresentação corra sem distúrbios;
C- expressar o meu descontentamento;
D- divertir-me;
10- Como PERFORMER não devo subestimar ou julgar PÚBLICO pelo seu sexo, idade, nacionalidade, orientação sexual ou religiosa ou pelo seu background intelectual ou social.
11- Como PERFORMER não devo utilizar o palco para atacar ou ofender alguém por motivos pessoais.
12- Como PÚBLICO não devo:
A- interromper a apresentação;
B- participar se não for convidado a isso
C- atacar a PERFORMER;
13- Como PERFORMER tenho o direito à ficção, a representar um papel durante a apresentação.
14- Como PERFORMER tenho o direito a não fazer concessões e a fazer a apresentação que pensei, concebi e ensaiei para o presente dia.
15- Como PÚBLICO tenho o direito a:
A- julgar a PERFORMER;
B- julgar a apresentação;
16- Como PÚBLICO tenho direito a:
A- não compreender;
B- não estar interessada/o;
C-divertir-me;
D- não participar;
E- querer saber mais sobre a apresentação e entrar em contacto com a PERFORMER;
F- sair;
As partes celebraram este Acordo a partir do dia e ano acima descritos:
PÚBLICO:_______________
PERFORMER:______________
#2
Acordo entre Performer e Público
O presente ACORDO é constituído ao dia 19 do mês de Outubro do ano 2018, entre as 11:25 e as 12:15, no Teatro 1, na ArtEZ, localizada em Onderlangs, 9, Arnhem.
Maria Joao Falcao (adiante denominada “PERFORMER”) e __________ (adiante denominada/o “PÚBLICO”) acordam o seguinte:
1- Como PERFORMER gostaria de convidar o PÚBLICO para uma apresentação de um work in progress, de uma experimentação da minha pesquisa, que acredito ser relevante. Gostaria de partilhar com o PÚBLICO o trabalho que tenho vindo a pensar e a desenvolver até ao presente dia.
2- Como PÚBLICO, ofereço à PERFORMER:
o meu tempo;
3- A PERFORMER dará ao PÚBLICO este ACORDO, que será utilizado como bilhete para aceder à apresentação.
4- Para o PÚBLICO este bilhete deverá ser:
um convite e gratuito, estamos num contexto académico e institutional;
5- A PERFORMER e o PÚBLICO desejam que a apresentação não seja perturbada por telemóveis.
6- Como PÚBLICO, gostaria, durante a terceira parte desta apresentação de estar sentado/a às escuras;
7- Como PERFORMER responsabilizo-me e respeito o PÚBLICO. Respeito o tempo deles, como espero que o PÚBLICO respeite o meu.
8- Como PERFORMER respeito o direito de o PÚBLICO não querer participar.
9- Como PÚBLICO devo divertir-me;
10- Como PERFORMER não devo subestimar ou julgar PÚBLICO pelo seu sexo, idade, nacionalidade, orientação sexual ou religiosa ou pelo seu background intelectual ou social.
11- Como PERFORMER não devo utilizar o palco para atacar ou ofender alguém por motivos pessoais.
12- Como PÚBLICO não devo interromper a apresentação, participar se não for convidado a isso ou atacar a PERFORMER;
13- Como PERFORMER tenho o direito à ficção, a representar um papel durante a apresentação.
14- Como PERFORMER tenho o direito a não fazer concessões e a fazer a apresentação que pensei, concebi e ensaiei para o presente dia.
15- Como PÚBLICO tenho o direito a julgar a PERFORMER e a julgar a apresentação;
16- Como PÚBLICO tenho direito a não compreender, não estar interessada/o, divertir-me, não participar, querer saber mais sobre a apresentação e entrar em contacto com a PERFORMER e a sair;
As partes celebraram este Acordo a partir do dia e ano acima descritos:
PÚBLICO:_______________
PERFORMER:______________
Segunda Apresentação, 28 de Fevereiro de 2019 Theatre aan de Rijn, Arnhem
Esta apresentação era dividida em três partes:
1- leitura de uma carta ao Público;
2- contrato;
3- co-criação;
A carta
Segundo Richard Schechner, na Grécia, o teatro era um lugar de competição. O público devia decidir quem seria o melhor dramaturgo e, mais tarde, o melhor actor. Assim, cabia ao público o papel de juiz e aos actores, o papel de serem julgados, 'transformados em vencedores e vencidos’ (1987, p.135).
Actores e público estavam condenados a julgar e ser julgados desde o início do teatro Ocidental. Assumindo este papel, o público 'não se deixa levar pela representação, como também não se diverte simplesmente' e os actores 'reagem, representando para o público ou intencionalmente, desprezando-o'. (Schechner, 1987, p.135)
Mas, estará o público conscience desta relação? Podem os actores e público libertar-se do facto de julgarem e serem julgados?
Isto era o que abordava a primeira parte da minha carta ao Público. Queria partilhar o facto de que a nossa relação precede-nos e que apesar de ter sofrido mudanças ao longo dos anos, ainda nos condiciona.
A segunda parte da carta constatava que se agora conceitos como 'participação' e 'passividade' são correntes na teoria e pratica teatral, não o eram no século XVI/XVII. Podemos mesmo assumir que a técnica do actor se desenvolveu a partir de uma necessidade prática em fazer-se ouvir, em silenciar o público. Era uma outra relação entre actor-público.
E agora, estamos aqui. Depois de ler a carta, o encontro com o Público, no presente.
Fazer o acordo, co-criar
Há um contrato tácito entre actriz-púbico, um conjunto de 'regras não verbalizadas' (Sedgman, 2018, p.12), com as quais o público já concordou quando vai ao teatro. Pagar o bilhete, sentar-se na plateia ou num lugar destinado ao público (normalmente no escuro), não interromper, não comer/beber durante o espectáculo, não falar com os actores, comportar-se de acordo com o estilo de peça a que assiste (comédia, tragédia) ou aplaudir no final.
Interessava-me abordar estas regras.
Na segunda parte da apresentação convidava o Público a co-criar comigo terceira parte, o espectáculo. Para isso deveríamos estabelecer as condições da co-criação e as regras da nossa relação, através de um acordo. Seríamos, Actriz e Público, parcialmente responsáveis pelo espectáculo.
Na primeira apresentação (Outubro, 2018), nomeio-me Performer no Acordo proposto ao Público, assumindo a PERFORMER como um personagem que iria interpretar na terceira parte. Neste segundo Acordo, nomeio-me ACTRIZ, não havendo distinção entre quem co-cria o espectáculo e quem o representa no final. Esta mudança é já uma tentativa de tornar o contrato e a sua elaboração, no espectáculo em si.
É também de referir que na primeira apresentação o contrato nasce de uma necessidade de defender os meus direitos face ao Público. Nesta segunda apresentação, o contrato nasce de um convite ao Público para co-criar comigo. O contrato é a base e início de uma conversa com o público sobre os nossos papéis.
Propus novamente um questionário ao Público, mas desta vez, as opções eram projectadas (Acordo #3) e as respostas editadas em tempo real (Acordo #4). O processo de co-criação previa que o Público propusesse outras regras e a negociação entre as partes do que queríamos para o espectáculo.
Introduzi nesta apresentação, o conceito de teatralidade. Queria, através deste conceito, como actriz, estar 'constantemente a lembrar ao espectador que está no teatro, em frente a uma actriz que está a representar um papel' (Feral and Bermingham, 2002). Quis explorar este conceito ao introduzir elementos de ficção e jogar com as expectativas do Público.
Devido a um problema técnico, não pude imprimir os Acordos. Por isso, o Acordo, em vez de ser assinado, seria 'celebrado com um brinde' (Acordo #3 e #4).
No final de lermos o Acordo final (#4), eu trouxe o vinho para celebrar/assinar. Mas o vinho não era vinho, era chá (o branco e o rosé) e sumo de uva (o tinto).
Explorar o conceito de teatralidade, nesta experiência específica, significou trazer o risco da ficção. Introduzir elementos teatrais (como personagem, circunstâncias fictícias, guião, gestos/comportamentos ensaiados) a uma negociação concreta com o Público. Interessava-me, não só, jogar com as expectativas do Público, mas também acrescentar ao jogo uma nova camada e abrir novas possibilidades de leitura.
Terminei a apresentação a cantar uma canção. Esta opção foi um statement pessoal como actriz, assumir que o actor tem a liberdade de experimentar e de fazer em palco algo em que não é virtuoso ou bom - e eu sou uma péssima cantora.
Esta apresentação foi também uma forma de expandir a minha ideia de representar, que durante este mestrado, percebi que é muito centrada na ideia de um actor dizer um texto em frente ao público.
A Apresentação - feedback pessoal
Houve 8 apresentações neste dia. A minha foi a última. Depois de um mês de Intensivo, a minha turma do MTP, que constituía grane parte do Público, estava bastante cansada. Havia, inclusive, pessoas que assistiam deitadas no chão.
Mas havia também um público reactivo, os mentores e o júri, que estava bastante interessado em discutir o Acordo comigo. Este facto foi bastante positivo para a apresentação.
O meu foco durante a apresentação dividia-se constantemente entre reagir e argumentar com aqueles que estavam bastante activos e animar os que estavam cansados e começavam a dispersar.
Porque esta apresentação depende muito das reacções do Público, o que questiono é como gerir a minha atenção. Devo estimular quem está mais inactivo ou concentrar-me essencialmente em quem demonstra interesse e quer assumidamente entrar em diálogo? Como é que me preparo para esta apresentação? Como é que ensaio?
Foi para responder a estas questões, para treinar, estar mais preparada e começar a desenvolver a última apresentação, que comecei a realizar Experiências com Público.
Esta apresentação não servia apenas para mostrar o desenvolvimento da nossa pesquisa, era também um green light assessment. Ou seja, depois da apresentação e da sua defesa, passávamos ou chumbávamos. Passei.
Acordos
O Acordo #3 é o Acordo proposto ao Público.
O Acordo #4 é o Acordo com as escolhas do Público, no final da apresentação.
Estão destacadas as opções adicionadas pelo Público.
#3
Acordo entre Actriz e Público
No dia 28 do mês de Fevereiro, do ano 2019, entre as 20 horas e as 21:30, no Theatre aan de Rijn, Maria Joao Falcao (adiante denominada “ACTRIZ”) e os membros do PÚBLICO (adiante denominado “PÚBLICO”) acordam o seguinte:
1- Em CO-CRIAR o Espectáculo, a Terceira Parte da Apresentação “On Invitation” da ACTRIZ.
2- CO-CRIAR significa:
- esclarecer os papéis do PÚBLICO e da ACTRIZ;
- estabelecer e criar as condições para o Espectáculo acontecer;
- assumir a responsabilidade pelo que possa acontecer durante o Espectáculo;
- confiar de que tanto o PÚBLICO como a ACTRIZ desempenharão os seus papéis;
3- A ACTRIZ é uma actriz que está a frequentar o segundo ano do MTP. A ACTRIZ está a fazer puma apresentação com base na sua pesquisa, 'A Autonomia do Actor' e a ser avaliada.
4- O PÚBLICO é:
A- um colectivo que assiste às apresentações do MTP2;
B- um grupo de indivíduos, que assiste às apresentações do MTP2 e que respeita as opiniões dos outros;
5- O papel da ACTRIZ é representar o seu statement artístico ao PÚBLICO e estar disponível às suas reacções;
6- O papel do PÚBLICO é:
A- ver a Apresentação;
B- dar sentido à Apresentação;
C- lembrar à ACTRIZ que está a ser vista;
D- participar;
7- Como ACTRIZ, tenho direito a:
- representar até ao fim e em liberdade aquilo que preparei;
- não fazer compromissos sobre o que criei;
- ter prazer em representar;
- ser pessoal;
- à ficção;
- a não agradar o PÚBLICO;
8- Como PÚBLICO tenho direito a:
A- julgar a ACTRIZ e a sus representação;
B- sair;
C- ter prazer;
D- recusar-me a participar;
E- intervir;
F- deixar-me levar pela representação/Apresentação;
9- Não se deve perder na relação PÚBLICO/ACTRIZ:
A- a tensão;
B- a distância;
C- a mensagem;
D- o binário faz/vê;
E- o respeito;
F- o sentido de responsabilidade pelo Espectáculo;
G- a expectativa;
H- a confiança;
I- a intimidade;
10- A ACTRIZ gostava de representar no palco, com luz geral;
11- O PÚBLICO gostaria de estar:
A- sentado no palco;
B- sentado distante, mas ao mesmo nível da ACTRIZ
C- sentado na plateia;
D- não sentado;
E- onde quiser;
12- O PÚBLICO gostaria de estar:
A- às escuras;
B- iluminado;
13- Convenções teatrais que gostaria de manter:
A- apresentação bilhete à entrada;
B- não participar se não for convidado a isso;
C- não há bebidas/comida durante o Espectáculo;
D- black out no final;
E- aplauso no final;
O Acordo entre ACTRIZ e PÚBLICO deverá ser celebrado com um brinde.
#4
Acordo entre ACTRIZ e PÚBLICO
No dia 28 do mês de Fevereiro, do ano 2019, entre as 20 horas e as 21:30, no Theatre aan de Rijn, Maria Joao Falcao (adiante denominada “ACTRIZ”) e os membros do PÚBLICO (adiante denominado “PÚBLICO”) acordam o seguinte:
1- Em CO-CRIAR o Espectáculo, a Terceira Parte da Apresentação “On Invitation” da ACTRIZ.
2- CO-CRIAR significa:
- esclarecer os papéis do PÚBLICO e da ACTRIZ;
- estabelecer e criar as condições para o Espectáculo acontecer;
- assumir a responsabilidade pelo que possa acontecer durante o Espectáculo;
- confiar de que tanto o PÚBLICO como a ACTRIZ desempenharão os seus papéis;
3- O PÚBLICO é um grupo de indivíduos, que assiste às apresentações do MTP2 e que respeita as opiniões dos outros;
4- A ACTRIZ é uma actriz que está a frequentar o segundo ano do MTP. A ACTRIZ está a fazer puma apresentação com base na sua pesquisa, 'A Autonomia do Actor' e está a ser avaliada.
5- O papel do PÚBLICO é qualquer um destes:
A- ver a Apresentação;
B- dar sentido à Apresentação;
C- lembrar à ACTRIZ que está a ser vista;
D- participar;
E- avaliar (to assess);
F- dar feedback;
6- O papel da ACTRIZ é representar o seu statement artístico ao PÚBLICO e estar disponível às suas reacções;
7- Como PÚBLICO tenho direito a:
A- julgar a ACTRIZ e a sus representação;
B- sair;
C- ter prazer;
D- recusar-me a participar;
E- intervir;
F- deixar-me levar pela representação/Apresentação;
G- de considerar o contrário;
8- Como ACTRIZ, tenho direito a:
- representar até ao fim e em liberdade aquilo que preparei;
- não fazer compromissos sobre o que criei;
- ter prazer em representar;
- ser pessoal;
- à ficção;
- a não agradar o PÚBLICO;
10- A ACTRIZ gostava de representar no palco, com luz geral;
11- O PÚBLICO gostaria de estar onde quiser;
O Acordo entre ACTRIZ e PÚBLICO deverá ser celebrado com um brinde.
Terceira Apresentação, 1 Julho de 2019 Teatro 3, ArtEZ
A última apresentação, o espectáculo final de mestrado.
Depois das experiências com público, cheguei a este modelo que apresentei como peça final.
A apresentação estava dividida em quatro partes (2):
1- Olá, eu sou a Actriz - descrição do cenário e instruções ao Público;
2- Descobrir o espectáculo - histórias e perguntas;
3- Intervalo;
4- Acordo;
Esta apresentação foi para 26 pessoas, o que considero muito. Este espectáculo deverá ser feito para um máximo de 20 pessoas e idealmente para 10 pessoas.
Para que a duração do espectáculo não excedesse os 90 minutos que me foram concedidos, decidi optar pelo voto democrático sempre que o número de espectadores excede os 10. Isto significa que as escolhas do público que ião constar no acordo final são as que têm mais votos.
O foco principal deste espectáculo é a negociação com o público. Mas à medida que a audiência aumenta, a negociação vai sendo cada vez mais difícil. Há uma linha muito ténue entre o desafio de estender a discussão e o espectáculo perder a sua forma e direcção. Facilmente público começa a dispersar, aborrecer-se, ficar cansado e a perder o interesse. A medida aqui não é 'o público não pode aborrecer-se' - esse é obviamente um dos direitos do público. A questão aqui é manter o público com vontade de continuar a negociar até ao fim.
A decisão do voto democrático é uma forma do espectáculo poder seguir em frente. Sempre que a discussão se estende muito na segunda parte (Descobrir o espectáculo), a última parte (Acordo), não terá o tempo e atenção que merece. O público está cansado e já não investe nessa parte. E interessa-me muito que haja tempo e disposição para continuar a negociação nesta última parte.
Por razões práticas de programação, também é necessário controlar o tempo do espectáculo. O voto democrático ajuda a que não se estenda para além do previsto.
Um dos meus principais objectivos era fazer uma apresentação em que a responsabilidade fosse partilhada entre Actriz-Público.
Ao mesmo tempo, interessava-me perceber como escapar de representar como eu penso que o Público quer que eu represente e, em vez disso, representar com o Público.
Podem as indicações cénicas ou um questionário ser um monólogo? O que é que significa o termo 'teatricalidade'? Pode a realização de um Acordo ser um espectáculo? O que é que significa dizer 'Eu sou a Actriz? Que papel é este, afinal, o de ser a Actriz?
Conforme os espectáculos vão decorrendo e com o feedback de amigos, colegas e espectadores, tanto a forma, como o conteúdo deste modelo que apresentei, vão sendo revistos. O mesmo acontece com o questionário ao Público e com a personagem Actriz. Estão em constante actualização.
O final da apresentação foi também uma estreia com o público. Foi a primeira vez que experimentei assim. Mas, como tudo, o final é também susceptível de mudança.
(2) Tenho seguido este modelo nas apresentações que tenho feito. Não é um modelo fixo e pode ser adaptado, segundo o contexto em que é apresentado.
Este foi o Acordo proposto ao Público:
Acordo entre ACTRIZ e PÚBLICO
No dia 1 de Julho de 2019, entre as 18:10 e as 19:30 horas, no Teatro 3 da ArtEZ, em Arnhem, Maria João Falcão (adiante denominada ACTRIZ) e os membros do público que assistem ao dito espectáculo (adiante denominado PÚBLICO), acordam que:
1- A ACTRIZ propõe ao PÚBLICO representar uma peça que foi pensada, preparada e ensaiada pela própria e que acontece agora em tempo real;
2- O papel do PÚBLICO é estar disponível às propostas da ACTRZ;
The role of the AUDIENCE is to be open and available for what the ACTRESS wants to propose.
3- Convenções a manter:
A- apresentar um bilhete à entrada;
B- o PÚBLICO só intervém quando é convidado a isso;
C- blackout no final;
D- aplausos no final;
4- O valor do bilhete deve ser:
A- um convite;
B - grátis, porque o PÚBLICO também participa na peça;
C- free, porque estamos num contexto académico;
D- 2 euros, preço simbólico - comprar um bilhete faz parte da experiência;
E- 10 €;
F- decidido no final, de acordo com a experiência de cada um;
5- O espectáculo é o que acontece entre ACTRIZ - PÚBLICO;
6- A ACTRIZ deverá apresentar o que preparou sem fazer concessões ou sem subestimar o PÚBLICO;
7- A ACTRIZ deve respeitar se o PÚBLICO não quiser participar;
8- O PÚBLICO:
A- deve respeitar as opções artísticas da ACTRIZ;
B- é aquele que observa e não aquele que actua;
C- faz parte de um colectivo;
D- é indispensável para que o espectáculo se faça;
E- é co-criador e tem responsabilidade sobre o espectáculo;
F- deve ser crítico em relação ao que está a ver;
9- A ACTRIZ tem direito a experimentar;
10- O PÚBLICO tem direito a:
- gostar/não gostar do espectáculo;
- mostrar o que está a sentir durante o espectáculo;
- não participar;
- divertir-se;
- não estar interessado;
- não compreender;
- sair quando quiser;
- dar a sua opinião;
11- Não se deve perder na relação ACTRIZ - PÚBLICO?...
12- O espectáculo acaba quando?...
PÚBLICO: _____________
ACTRIZ: ___________